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segunda-feira, 5 de abril de 2010

DILMA e SERRA

Os projetos opostos de Dilma e Serra


Abril é o mês das decisões para os políticos que, ocupando cargos no executivo, pretendem concorrer nas eleições de outubro. É tempo também em que os discursos dos que saem delineiam programas e avaliam o passado.

Os discursos dos dois principais pretendentes à sucessão do presidente Luiz Inácio da Silva não destoam deste figurino. Dilma Rousseff, pré-candidata das forças democráticas, patrióticas e progressistas que apoiam o governo Lula fez uma orgulhosa afirmação dos méritos do atual governo, e quer continuar nesse rumo. José Serra, pré-candidato do campo neoliberal, retrógrado e conservador, viu-se na contingência de balbuciar medidas populares e progressistas que não aplicou como governador de São Paulo nem viu aplicadas quando foi ministro (do Planejamento e da Saúde) do tucano Fernando Henrique Cardoso.

Serra e a cúpula tucana parecem se envergonhar da presidência de FHC, que tentam esconder. Em seu discurso de despedida do governo paulista, pronunciado dia 31, Serra fez apenas duas referências a FHC. Dilma Rousseff, que não tem o que esconder mas se orgulha do atual governo federal, fez 48 referências diretas e indiretas ao presidente Lula. “Alguns não têm orgulho dos governos de que participaram”. Mas nós, disse ela, “podemos sempre saber que temos patrimônio, nós fizemos parte da era Lula”, disse com visível satisfação.

Dilma tem razão. No discurso pronunciado na solenidade de anúncio do PAC2 ela já havia feito uma crítica fundamental ao chamado “Estado mínimo” dos tucanos e de FHC. "Era o Estado do não. Não tinha planejamento estratégico, não tinha aliança com o setor privado, não incrementou investimento público, não financiou investimento privado”. Na gestão Lula, ao contrário, afirmou, o Estado “não se omite” e “coloca no centro de suas preocupações o direito das cidadãs e cidadãos do Brasil".

E Serra, o que tem a dizer? Apenas generalidades. No discurso em que anunciou sua saída do governo paulista, também no dia 31, repetiu a velha cantilena tucana do aparelhamento do Estado e da "gastança", que esconde a tese conservadora de que o governo caberia aos técnicos, aos especialistas. É a opinião daqueles que querem tirar dos centros decisórios as forças políticas ligadas ao povo – os “aliados”, os “sindicalistas”, no dizer deles – e colocar em seu lugar tecnocratas da classe dominante cujo desempenho, desde a ditadura militar de 1964, infelicitou o povo brasileiro com sua insensibilidade ante os problemas sociais e sua prioridade para os interesses econômicos e financeiros dos donos do capital. Para eles, a atenção aos problemas sociais, às demandas populares, é demagogia.

Prestando uma homenagem oblíqua aos tempos inaugurados por Lula, Serra foi obrigado a usar uma palavra rejeitada pelos tucanos: planejamento, no qual disse acreditar “piamente”. Mas o que significa isso dito por um cardeal tucano? Finanças, austeridade fiscal, redução de custos e por aí vai. Não há novidade: é a mesma prioridade para os interesses do grande capital, deixando em segundo plano os interesses sociais. Basta ver o que o governo de José Serra fez com a saúde e a educação em São Paulo, onde essa “austeridade” arrochou os salários dos professores e os levou à maior greve dos últimos anos, tratada na ponta do chicote por seu governo.

Dilma Rousseff, ao contrário, pode reafirmar sem medo a continuidade em relação ao governo atual, e a alegria de participar de um governo que mudou o Brasil e abriu uma etapa nova em nossa história; de um “dos governos que mais fez pelo povo deste país”. Com a alma “cheia de otimismo, esperança e de fé” por compreender que este é um dos “momentos mais decisivos da história do nosso país”, quando “o povo se reencontrou consigo mesmo” sob a liderança “de um dos líderes mais populares, e talvez o mais brasileiro de todos os líderes desse país”.

Não é pouco. É a concretização, disse, dos sonhos de uma geração, enraizados na luta contra a ditadura, pela redemocratização, das lutas “e dos movimentos sociais por direitos, dignidade, Justiça e liberdade desse país, por soberania”. Governo que trouxe vitórias com perspectiva histórica. “Com o senhor nós vencemos. E vamos vencendo a cada dia. Vencemos a miséria, a pobreza, ou parte da miséria e da grande pobreza desse país. Vencemos a submissão, vencemos a estagnação, vencemos o pessimismo, vencemos o conformismo e vencemos a indignidade. Talvez nós tenhamos vencido, inclusive, esse pesado resquício da escravidão que esse país carrega, ou que carregou tão forte”, disse. Condenou “aqueles que lamentam, os viúvos do Brasil que crescia pouco, da estagnação”, que “têm medo” pois “não sabem o que oferecer a um povo que hoje é orgulhoso e tem certeza que sua vida mudou, não aceita mais migalhas, parcelas ou projetos inacabados”. Povo que, em nosso governo, disse, não é coadjuvante, mas o centro das nossas atenções e “protagonista de sua própria história”.

Ao dizer “até breve”, na conclusão do discurso, Dilma reafirmou a convicção na continuidade do projeto inaugurado em 2003; manifestou a confiança de que o povo não vai aceitar o retorno do tucanato neoliberal; indicou a decisão de avançar nesse rumo, ampliando esse futuro que vai se tornando presente.

São programas opostos que se apresentam ao julgamento dos brasileiros. Um centrado nos interesses dos brasileiros, com ênfase no desenvolvimento, na distribuição de renda e na construção de uma nação moderna e avançada; o outro, como sempre, voltado para os interesses dos donos do capital e de costas para o país. Eles vão polarizar o embate político dos próximos seis meses.

Fonte: Vermelho/Editorial

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