SÓ GOZO COM QUEM DÁ

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

FIDEL ME PLAGIOU

François Silvestre


Esse título parece uma idiotice. Tem jeito de idiotice. Cara de idiotice. E é apenas uma idiotice.

Fidel Castro mandou um recado para o títere do Irã, aquele pau desmandado dos aiatolás. “O povo judeu sofreu mais do que nós. Nada se compara ao holocausto”. Isso é verdade. Mas não foi aí o plágio.

Fidel também disse que a dispersão ou diáspora dos judeus só não os aniquilou por conta da sua cultura. O plágio está aí. Claro que um plágio inconsciente, pois Fidel nem sabe se eu existo.

Em discursos meus, piolhos de mucuim, comparados aos discursos quilométricos de Fidel, afirmei várias vezes que a cultura é o único elemento permanentemente agregador de um povo. E repeti por escrito em “As alças de Agave”.

Não há explicação política, econômica ou militar, que justifique a existência dos povos judeus e palestinos. Povos primos, ambos descendentes dos noemitas, ramos dos semitas e dos canitas, de Sem e Cão; nunca tiveram força militar nem poderio econômico para fazer frente aos atropelos da história. Aí estão os hebreus que Abraão trouxe de Ur, da Suméria, em busca do oásis imaginário da Mesopotâmia e os descendentes dos filisteus, que são os palestinos, ramo desgarrado dos noemitas, de Cão, o irmão rejeitado de Sem.

Só há uma explicação para essa sobrevivência. A manutenção da identidade cultural. De ambos. A fotografia de um líder palestino sendo morto por uma patrulha israelita ou de um templo judeu explodido por um suicida palestino, apenas refaz, noutro tempo, a cena do quadro de Caravaggio em que Davi segura a cabeça cortada de Golias.

Quando num terreiro do sertão, beira de açude, passa um rebanho de patos silvestres, os patos domésticos se alvoroçam. E se voltam para o alto, de onde vêem a caravana dos parentes peregrinos. Essa linha invisível inexplicável assemelha-se aos nós espaciais que se atam na tecedura das amarras culturais.

Onde andam etruscos, sabinos, sumérios, caldeus, assírios, hunos, fenícios? Todos de poderio militar e econômico superiores aos judeus e palestinos. Desapareceram nas brumas do tempo. Os desaparecidos nunca regaram suas raízes culturais. Nem respeitaram a cultura dos outros.

Um judeu exilado, no Recife do século dezoito, mantinha com seu irmão da Sibéria uma linha invisível de contato cultural. Sem que um soubesse da existência do outro. Um dia, seus netos se encontraram em Israel. Um palestino mascate de São Paulo ligava-se com um irmão seu da Argélia pelo umbigo da cultura. Sem que um soubesse da existência do outro. Um dia, seus netos se encontraram na Faixa de Gaza.

Não há outra explicação que não seja o elo da identidade cultural. Cultura e liberdade. Uma sustenta a falta da outra.

Fidel matou sua revolução ao sangrar a liberdade, que é a jugular da cultura. Não há justiça social que substitua cultura e liberdade. Té mais.

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