SÓ GOZO COM QUEM DÁ

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Revolução Cubana.

François Silvestre

Não pretendia aprofundar o escrito sobre o recado de Fidel ao títere do Irã. Mas foram tantos telefonemas e e-mails, uns de cobrança outros de opinião, que me sinto obrigado a tratar do mesmo assunto; agora sob a ótica do resultado da Revolução Cubana.

Quando do levante de Sierra Maestra, fim dos anos cinquenta, Revolução era uma palavra sagrada. Tanto que alguns anos depois, a milicada brasileira chamou de revolução o golpe de estado que derrubou Jango. Nunca pegou. Não se podia contaminar a nomenclatura do heroísmo. Revolução era o sublime choque abrupto da história, transformador irreversível da política, da produção ou dos costumes. Revolução francesa, industrial, bolchevique, cultural, vietnamita. Até a dos cravos.

Cuba faz uma revolução que toca os clarins do chamamento à atenção dos pensadores e filósofos do mundo todo. Marcuse, Sartre, Russell, Carpeaux. O existencialista francês visita Cuba. E conclama todos a uma reflexão de apoio, imaginando estar ali um modelo revolucionário a ser seguido. Uma Cuba na Argélia era o seu sonho.

Os que desciam a Serra, “barba e vida por fazer”, estavam condenados à refeitura de um mundo novo.

Mas a Revolução Cubana foi minguando à medida que se tornava a revolução de Fidel. O mesmo personalismo que matou a Revolução Russa, ao coroar Stalin e criar uma dinastia de partido, tão brutal quando o tzarismo derrotado. E o que era Revolução virou Golpe permanente de Estado. O culto à personalidade, a repressão política, a corrupção. Os países do leste europeu viraram universidades de roubalheira. O que era uma feição da Direita tornou-se uma prática da Esquerda.

Todos iguais. Stalin e Fidel são beneméritos do capitalismo, pois desmoralizaram a única alternativa viável ao “laissez faire” selvagem. Um com o poderio militar, político e territorial. O outro com a glória de ter transformado um balneário da putaria americana numa pátria. Porém, ambos apavorados com a liberdade. Ela que é, ao lado da cultura, o terror dos tiranos. E Fidel ainda tinha Guevara, seu embaixador de ilusões.

O que não mudou foi o capitalismo. Continua o mesmo regime de exploração, crueldade e ganância. Cooptou seu inimigo. A rosa dos ventos, na política, agora só tem um lado.

O pragmatismo resultante da falência do socialismo real irmanou capitalistas e socialistas. A palavra de ordem é inchar a classe média, ou criar uma ampla classe média. Qualquer manual de sociologia política denominaria de bobagem essa assertiva. A classe média não é uma classe social ou econômica. É um conglomerado superestrutural resultante de certos momentos da economia. Ao cessar a causa, morre a conseqüência. Um leitor de Tomaz de Aquino sabe disso. Só não sabe a “nova” esquerda.

A Direita não mudou nada. Nem saiu do canto. Quem mudou foi a Esquerda. Amigou-se com a Direita e hoje são amancebadas. Té mais.

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