SÓ GOZO COM QUEM DÁ

quinta-feira, 3 de março de 2011

DE PROFECIAS E OUTRAS CIAS

 Por François Silvestre


Hoje me veio à memória o bufar dos coturnos. Tempos de sofrimento e esperança. Única época que não desmerece o maniqueísmo.

Só havia dois lados para a militância política ou exercício intelectual. O lado da dignidade humana, da luta pela liberdade, ou o lado do cachorrismo colaborador.

A ditadura não aceitava apoio indiferente. Ou estava com ela ou contra ela. E todos os que estavam contra ela dignamente, abertamente, eram “comunistas”. Para o poder ditatorial e estúpido não havia oposição democrática. Católicos, evangélicos, espíritas, ateus, profissionais liberais, jornalistas, estudantes, todos eram bolcheviques. “Democratas e brasileiros” só os aliados e os cachorros. Com minhas desculpas aos cães propriamente ditos. Ainda paira no ar um miasma de sangue não coagulado.

Um jornalista que hoje critica o poder petista, exigindo o cumprimento da dignidade prometida, e que esteve, na era do chumbo, defendendo a liberdade, merece o meu respeito e admiração.

Mas quem esteve naquele tempo sombrio esgueirando-se em cochichos pelos recantos do medo, chamando os resistentes de “esquerda festiva” ou “veleidade esquerdista”, apoiando a ditadura omissivamente, sem coragem de expor a opinião, com vergonha de ser reaça, e hoje cobra “democracia”, merece apenas o desprezo frio.

Quem nunca arriscou um minuto de sossego para falar em liberdade, nos tempos do coturno, não tem autoridade moral para criticar ditadura nenhuma. Suas armas foram desmuniciadas pela própria biografia.

Esse é um tempo terrível. Não de se comer no meio da batalha nem de se amar no meio da revolta. Mas de entender o desafio de desafiar o vazio para reacender a chama que desmascare o novo disfarce das trevas.

Marx conheceu, dissecou e combateu o capitalismo mercantil. Onde a mais-valia, com todos os contornos da exploração, guardava uma relação entre o capital existente e o trabalho realizado. Esse capitalismo transmutou-se.

É agora um capitalismo virtual, que Marx não conheceu nem previu. Há um teto de números financeiros, irreal, sem qualquer relação com o dinheiro existente ou com o trabalho realizado. Negócios feitos e pagos com moeda de miçanga. Megas fortunas do nada. Tudo bancado com o apoio “secreto” de uma mídia venal, também invisível. Só a miséria é real.

Clama por uma negação. Uma nova Esquerda. Distante dos golpes “comunistas” que produziram ditaduras corruptas e capitalismos de Estado. E ainda deram voz a uma Direita nefanda, com seus teóricos rancorosos e medíocres, embrulhados em papel celofane.

Eu falava de profecia? Os Maias profetizaram o fim do Mundo para 2012. Mas isso foi antes deles se juntarem aos Alves. Agora, a profecia pode ser antecipada. Té mais.

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