SÓ GOZO COM QUEM DÁ

sábado, 26 de março de 2011

RELIGIÃO E IDEOLOGIA

François Silvestre


Da infância entre o mato e a sacristia, neto de avó carola, coroinha e venerador de santos; travessia da infância para a adolescência em colégio de padres. Tudo programado para uma vida religiosa, encharcada de medos e culpas.

Essa é a formação cristã. Ou deformação. É preciso ter medo. E se romper o medo, angariar culpa. Duas péssimas companhias. Não há a menor chance de vida saudável, física ou mental, onde há culpa ou medo. Imagine os dois!

O Marxismo me libertou da religião. Os santos agora eram apenas mitos. A hagiografia só para ilustração. Morte dos medos, sepultura para as culpas. Uma liberdade nova e completa. Completa? Nem tanto.

Ao me livrar da prisão religiosa, o Marxismo me pôs algemas novas. O cárcere da ideologia.

Se antes era medo e culpa, agora era disciplina e limites para pensar ou expressar o pensamento. E como eu não podia chamar o Chapolin Colorado, fui salvo pela história. Ou melhor, pelo fracasso da história.

Num certo momento da crença ideológica, o fanatismo substitui a razão. E era fácil convencer um jovem carregado de sonhos de um mundo novo e enojado das injustiças sociais, miséria econômica e repressão política.

A certeza de que tudo seria transformado para uma sociedade solidária “herdeira da paz e do trabalho” dos versos de Emmanuel Bezerra.

E o preço dessa transformação era a disciplina partidária. Não há opinião pessoal importante. Só a opinião coletiva, ditada pela Organização. Pensar era um risco. E se pensasse guardasse segredo, para não ser obrigado a uma autocrítica humilhante.

Tudo contido no código do Partido. Muitos partidos, vários códigos. Os santos da veneração agora eram os camaradas da Revolução. E a briga entre os partidos “revolucionários” era muito mais odiosa do que contra o inimigo maior: a ditadura e o capitalismo. "Nós nos odiávamos cordialmente”. Como disse Vulpiano Cavalcanti.

Salvo pela história. A prática é o matadouro das ideologias. E foi a prática das “revoluções socialistas” que desmoralizaram o Marxismo. Ditaduras tão cruéis e corruptas quantos as ditaduras do capitalismo. O Marxismo continua sendo a mais fantástica análise histórica das relações humanas com a economia. Mas fracassou na prática. A natureza humana é incompatível com a socialização da propriedade. O mendigo prefere sonhar com a fortuna a abrir mão do direito à ganância.

A constatação tem facilidade aparente. Uma reflexão mais acurada não cabe num artigo de jornal. Mas merece um toque mesmo superficial.

Assim como é apenas aparente a dificuldade das constatações aristotélicas. Muito mais simples do que parece. Já houve até quem dissesse que até os macacos sabem, ou desconfiam, que o conjunto das bananas maduras é menor do que o conjunto das bananas. Té mais.

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