O último domingo coincidiu com o dia dos namorados, que é celebrado sob a proteção de um santo nos EUA e na  Europa, mas no Brasil, não. É curioso que o dito maior país católico do mundo  tenha essa singularidade, pois para tudo há um santo nessa Terra de Vera Cruz. O  santo em questão é uma lenda cristã e é admirável o caráter didático de  numerosas delas. Uma delas é a dos três reis magos. Não eram  três, não eram reis, não se sabe se existiram, mas foram visitar o Menino Jesus,  recém-nascido em Belém, passando antes por Jerusalém, de onde saíram  desconfiados do rei Herodes, tanto que nem voltaram pelo mesmo caminho. Ainda  assim, desde o século 12 seus restos mortais estão na famosa Catedral de  Colônia, na Alemanha, sem que saibamos de quem são aqueles ossos. 
Melhor soldado era o homem solteiro
No dia dos namorados recordamos mais uma lenda de um santo cujo nome a  Enciclopédia Católica retirou do cânone em 1969. No mesmo ano excluiu  São Jorge e São Cristóvão pelo mesmo motivo: suas existências não foram  comprovadas. O misterioso São Valentim, que dá nome ao dia dos namorados nos  Estados Unidos e na Europa, provavelmente é a junção, pelo povo, de diversas  personalidades com esse nome, que viveram em séculos diferentes.
O São Valentim mais conhecido foi aceito pela Igreja no século V, cumprindo  determinação do papa Gelásio I. O decreto dizia, entre coisas, que há santos  “cujos nomes são venerados pelos homens, mas cujos atos só Deus  conhece”. O próprio sumo pontífice admitia, então, que era de difícil  comprovação a sua existência e o que fizera para ser elevado à honra dos  altares.
Ele teria sido um sacerdote ou um bispo que se apaixonou pela filha de seu  carcereiro. Nas cartas que escrevia à moça, despedia-se como Teu  Valentim. Foi morto, depois de muito torturado, no século III. Tinha sido  condenado à prisão por desobedecer às ordens de Cláudio II, imperador romano que  proibira a celebração de casamentos em períodos de guerra. Nas análises  militares, era melhor soldado o homem solteiro. Mas ele continuou a celebrar  casamentos e por isso era muito admirado pela juventude.
O evento passou a apenas comercial
Na prisão, Valentim recebeu várias cartas de namorados que queriam casar-se.  Logo essas cartas e aquelas que ele escreveu à filha do carcereiro, sua  namorada, passaram a servir de modelo aos cartões e mensagens – e hoje,  e-mails e torpedos – trocados entre os namorados no dia 14 de  fevereiro, data que era festejada, antes do Cristianismo, como o dia em que os  passarinhos começam a acasalar-se, cinco semanas antes de começar a  primavera.
Os antigos romanos tinham um deus chamado Fauno Luperco. Ele protegia os  pastores, especialmente contra os lobos: Luperco, de lupus, lobo em  latim. Era muito festejado nas lupercálias, quando os homens batiam nas mulheres  com tiras de couro de bode, invocando a fertilidade. Era uma espécie de dia dos  namorados também...
Quem trouxe o dia dos namorados para o Brasil foi o publicitário João Dória,  em 1950. O lema foi “não é só com beijos que se prova o amor”. A data  foi mudada para 12 de junho, por ser véspera de São Antônio, santo casamenteiro.  No resto do mundo, inclusive em Portugal, o dia dos namorados continua a ser  celebrado no dia 14 de fevereiro.
E os namorados? Como os passarinhos, os namorados continuam a acasalar-se,  nesse e em outros dias e em todas as estações, mas depois disso sob a égide de  uma festa que tornou indispensáveis os presentes. O evento passou de mítico e  religioso a apenas comercial. É por isso que pessoas esclarecidas tanto detestam  essas efemérides.